sábado, 10 de dezembro de 2011

Casualidade


O Jovem senhor entrou na biblioteca, tirou seu chapéu e o segurou com a mão esquerda. Andou com passos lentos por toda a biblioteca. Com a cabeça curvada, não falou, não sorriu, não perguntou, apenas caminhou olhando a capa dos livros sem os tocar.
Entrou na seção de esoterismo, dedilhou alguns livros. Foi para a seção de espiritualismo, e deu uma olhadela nos alfarrábios. Tirou um bloco de anotações, escreveu algumas palavras, guardou a caneta e voltou a andar.
Pegou um livro socialista, algo como "mudar o mundo"... Sentou em uma poltrona, escorregou os óculos para a ponta do nariz e começou a ler. Passou umas duas páginas, repousou o livro sobre a perna direita, o chapéu na esquerda, moveu seu olhar para frente e parou... Era como se estivesse pensando em algo maravilhoso, ou terrivelmente maligno. Mas também ele poderia estar apenas divagando.
Enquanto isso a faxineira varria a sujeira da biblioteca, que para mim não existia, pois eu não via sujeira alguma. Em meu campo de visão havia apenas a vassoura se movimentando insistente e obrigando os leitores que estavam sentados a levantarem seus pés. Seria até uma cena engraçada, se a moça não demonstrasse prazer em incomodá-los.
"Licencinha!" dizia, e passava a vassoura. Na vez do leitor socialista, ele simplesmente parou a leitura, fixou o olhar bem no fundo dos olhos dela, ameaçou um sorriso, e mudou-se para outra poltrona.
Ela continuou a varrer a poeira, que só ela via, para lugar nenhum. Agora com rodo e pano úmido nas mãos   novamente voltou a  incomodar os leitores. Desta vez o socialista  apenas se levantou, guardou o livro, colocou o chapéu na cabeça e se foi. 



"Viver no mundo sem tomar consciência do significado do mundo é como vagar por uma imensa biblioteca sem tocar os livros." Dan Brown

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