A luz batia em meus olhos, tentava protegê-los. O travesseiro macio, o lençol perfeitamente esticado, a coberta de pelos macios, tudo propício para um cochilo, atrás das órbitas dos meus olhos uma dorzinha indicava sono. Enquanto ouvindo um conto dramática.
Tentei me concentrar na história, mas aquela situação me puxava para o passado. Era uma criança, com meus 8 a 10 anos lutando contra o sono para estar junto aos adultos. Em minha mente minha avó estava sentada em uma das extremidades do sofá, com um balde entre as pernas; no braço do acento um pilha de papéis era cuidadosamente analisado e separado, alguns, talvez a maioria, eram rasgados em pequenos cubos e atirados ao balde. Podia ouvir os ruídos da televisão ao fundo, percebia a presença de outras pessoas. Ela não falava absolutamente nada, vez ou outra alguém fazia algum rápido comentário, ela continuava sem falar, a luz branca ardia meus olhos. Cada barulho, cada som do papel sendo picado me fazia lembrar que tinha de vencer aquela luta contra meu sono, e esforçava para manter me de olhos abertos.
Aquela sensação era tão boa. O sofá confortável, o sono muito convidativo, mas a cada ruído, uma corrente de alguma coisa estranha (força, susto, conforto ou medo) passava em todo meu corpo e então eu conseguia abrir um filete entre os olhos. Vi que não aguentaria mais e deveria ceder.
Tentei forçar para ouvir sua voz, tentei entender a história, mas já era tarde de mais, não havia barulho; não havia história. Eu estava entregue ao sono, completamente, dominado por ele. Eu precisava acordar. Eu precisava acordar! Minha vó. Aquela situação, eu precisava daquilo tudo. Era tarde, eu já estava dominado. Meu cérebro quis chorar, eu não podia, estava dormindo. Então cedi por completo e me mantive naquela boa sensação das lembranças do que acabara de acontecer. Isso me deu forças para tentar lutar mais uma vez contra o sono. Tentei ouvir a voz ligeira me contando a história. Só escutei o silêncio, sabia que estava conseguindo vencer meu sono desta vez, e forçava mais meus ouvidos. Então a confirmação: eu só escutava o silêncio.
Depois de muito esforço, abri os olhos. Sorri esperando vê-los na sala da velha casa. Ledo engano, eles já teriam partido.
Eu estava em casa, deitado na cama. O contador de histórias me olhando com misericórdia e pena por eu não ter continuado dormindo. Disse-lhe que não precisava ter parado a história, pois estava gostando do conto, sua rápida leitura se recompôs enquanto eu tentava capturar o máximo possível daquela lembrança escondidas em mim, lembrança que há anos venho tentando ter.
A história foi se complicando, os personagens estavam aflitos, podia sentir a aflição deles, a mulher desesperada, corria de um lado para o outro em busca de seu filho, era exatamente como eu. Procurava por algo que nunca esteve ali, ou que como o personagem, nunca tinha saído dali.
Interrompi, já bastava por hoje, faltava poucos minutos para uma hora da manhã. Como o contador de histórias poderia estar acordado a essa hora, se ele sempre vai dormir por volta das 22:30? Como eu poderia estar dormindo? Nunca vou dormir antes das 3:30. Desesperei me. Não sabia mais o que era realidade e o que não era. Levante despedi rapidamente. Ao caminho de meu quarto encontrei meu avô que também estava acordado. Ele sempre dormia cedo, todas as luzes da casa estavam acessa. Pensei então que meu relógio estivesse errado, mas não estava.
Tentei fechar a porta, não consegui segurar as chaves que caiam em câmara lenta. Pude ver cada movimento: a chave amarela para um lado, as prateados para o outro, suas pontas curvando-se para cima, o chaveiro as puxando para baixo, tudo muito devagar.