Minha vida, meus cabelos

Acordei com o cabelo medindo 30cm e dormi com ele medindo nem 2cm.

Aproximadamente no início de novembro de 2009 decidi deixar meu cabelo um pouco mais comprido, fui deixando, e quando percebi já tinha atravessado 2010 sem passar nem na porta de um cabeleireiro.

Não foi tão fácil assim, os conservadores e as pessoas acostumadas com meu cabelo sempre curto me estranharam e me pressionavam a cortar. Me ofereceram de tudo, tentaram me comprar, sem resultado optaram por me humilhar. Todo mundo enxergava alguém em mim, menos eu mesmo.

Mesmo achando ruim aquela situação, resolvi enfrentar a pressão.

Tenho que admitir que uma das coisas mais legal de deixar o cabelo crescer é que a cada dia que eu levantava e me olhava no espelho estava de um jeito, um dia mais diferente que o outro, isso para mim era muito divertido, mas para as pessoas que me rodeavam não. É muito difícil para o cérebro humano aceitar mudanças radicais, dá muito trabalho para ele.

Cada mês era um penteado diferente. Por danos meu cabelo não é lá aquela coisa, mesmo assim deu para divertir bastante.

Os que não me conheceram quando meu cabelo era curto aprovavam, assim como uma minoria de conhecidos.

Disse que não iria cortar e nada me fez mudar de idéia, meus parentes então se renderam e começaram a acostumar e me aceitar . Ainda assim ainda faziam pressão para corta-lo. Eu já tinha me acostumado aquelas rápidas mudanças e cada vez mais queria ir além.

Agora nas férias percebi que ninguém mais me criticava, a maioria já tinha se acostumado ou se rendido, então conclui que tinha vencido essa luta e já poderia voltar ao início. Os que sempre me pediram para cortar não queria mais que eu fizesse isso.

Eu já tinha enfrentado uma das mais longas pressão que me fizeram. Já dizia a profeta "você é do contra, mesmo que não seja você faz perceber que é", sim tinha sido do contra para deixá-lo crescer e agora estava sendo do contra para corta-lo.

Tinha colocado na cabeça que iria corta-lo e não mudaria de idéia. Fui três vezes ao cabeleireiro e todas as três desisti. Mas nesta sexta-feira, fomos passear e passamos em frente a um cabeleireiro, perguntamos se tinha horário, a moça foi verificar e voltou com um homem que lembrava um antigo caminhoneiro que sem me perguntar nada, me mandou sentar. Não teve escapatória, em menos de meio minuto meu quase um ano e meio de cabelo estava no chão. Cada tesourada era um relapso do passado, foi como entrar numa máquina do tempo, que me fez lembrar de todos os anos de minha história.

Via minha vida refletida naqueles cachos opacos que rapidamente eram podados. e E em pouco

tempo eu estava de volta ao cabelo de sempre, curto e sem solução.

Me levantei e sai de lá em silêncio, não acreditava no que havia acontecido, não acreditava que eu tivera coragem, não eu não podia acreditar em tudo aquilo.

Corri para casa e quis tomar banho, olhei no espelho e meu coração parecia querer, assim como meu cabelo, soltar para o chão. Passei a mão no cabelo e meus dedos não conseguiram penetra-los, somente a ponta do pente passou pelos grossos fios, uma rápida e leve passada de toalha já conseguiu seca-los diferente do antigo.

Precisava repartir minha tristeza e liguei para minha mãe e irmã que assim como eu se choram. Voltei ao espelho e disse "esse não sou eu" "não. esse sim é você".

Já não estou mais arrependido , estou quase me acostumando, daqui um ano e meio e me acostumo de vez! e quem sabe lá ele já não está grande outra vez?